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1 10/08/2020 15:33

No estudo de desafio humano, voluntários recebem a vacina em teste ou placebo para, depois, serem infectados com o vírus

A polêmica ideia de infectar propositalmente pessoas com o novo coronavírus para acelerar os testes de uma possível vacina vem ganhando força na comunidade científica internacional e entre voluntários brasileiros. Em julho, a organização americana 1DaySooner, criada em abril para advogar pela realização desse tipo de estudo, recebeu o apoio de mais de 150 cientistas, incluindo 15 ganhadores do Prêmio Nobel.

A entidade já registrou também a inscrição de 32 mil voluntários de 140 países que se dizem dispostos a participar do teste. Ao jornal O Estado de S. Paulo, um representante da organização revelou que mais de 9 mil são brasileiros – o segundo maior contingente, atrás somente dos norte-americanos, com 15 mil.

Especialistas críticos ao estudo destacam a implicação ética de expor voluntários a uma doença sem um tratamento comprovadamente eficaz. Mas os defensores do modelo dizem que ele poderia salvar milhares de vidas ao antecipar a descoberta de uma vacina eficiente.

No estudo de desafio humano, como esse tipo de teste é conhecido, voluntários recebem a vacina em teste ou placebo para, depois, serem infectados com o vírus, o que permitiria aos cientistas observar mais rapidamente se o imunizante tem eficácia.

Nos estudos tradicionais, a prova da eficácia depende do contato natural dos voluntários com o patógeno. Para isso, é necessário incluir um grande número de participantes e monitorá-los por meses ou anos para comparar os índices de infecção entre os que tomaram a vacina e o grupo controlado.

O apoio de renomados acadêmicos à iniciativa veio por carta aberta endereçada ao diretor dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês) dos Estados Unidos.

O documento foi elaborado pela organização 1DaySooner em conjunto com especialistas como o pediatra Stanley Plotkin, um dos maiores estudiosos em vacina do mundo. A carta também foi assinada por Adrian Hill, diretor do Instituto Jenner, divisão da Universidade de Oxford responsável pelo desenvolvimento da vacina contra a Covid-19 que está sendo testada no Brasil.

Em nota, a Oxford afirmou "não estar planejando" realizar estudos de desafio humano neste momento por ter "extensos ensaios clínicos internacionais para avaliar a vacina em um cenário do mundo real". Hill, porém, já declarou à imprensa internacional que considera realizar esse tipo de teste ainda este ano. A 1DaySooner disse estar colaborando com o Instituto Jenner na elaboração de protocolos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) também não descarta a realização de estudos de desafio para a Covid-19. Em junho, um grupo consultor da entidade concluiu um relatório preliminar sobre a viabilidade, importância e limitações desse tipo de pesquisa. No documento, a OMS define regras que deveriam ser seguidas para minimizar os riscos, como o recrutamento de voluntários jovens e a administração de quantidade pequena de vírus.

O comitê de especialistas, porém, ficou dividido sobre quando tais testes poderiam ser feitos. Metade dele acha razoável realizá-los somente quando houver um medicamento eficaz contra a Covid-19. O restante defende que os testes sejam iniciados imediatamente frente à emergência.

Os acadêmicos que assinaram a carta aberta defendem que tais pesquisas podem "acelerar o desenvolvimento de vacinas e salvar milhões de vidas, bem como ajudar a resgatar economias". Eles destacam ainda que os protocolos devem minimizar ao máximo os riscos para os voluntários.

Nesse caso, segundo os acadêmicos, idealmente seriam aceitos participantes na faixa dos 20 aos 29 anos e com boas condições de saúde. Eles seriam monitorados constantemente, ficariam isolados em instalações próprias da pesquisa para não espalhar o vírus e receberiam assistência médica precoce, caso desenvolvessem a doença.

"O risco de morte por Covid-19 para uma pessoa na faixa dos 20 anos é de 1 em 4 mil. É semelhante a riscos que a sociedade aceita, como o de doar um rim", afirmou ao Estado Abie Rohrig, diretor de comunicações da 1Day Sooner.

Fonte: CNN Brasil







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